sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Das vistas curtas no planeamento urbano

Independentemente da intensidade das minhas colaborações para este blog, pelo menos o primeiro texto tem de trazer à tona algum tema que me seja querido, me irrite ou os dois. O tema das ciclovias mal paridas comporta as duas qualidades. Desde que andei por Madrid e Barcelona que não consigo pensar noutra coisa. Havia ditadura em Portugal e havia ditadura em Espanha, mas as concepções de uma e outra sobre o património a edificar e a disposição do mesmo é TOTALMENTE DISCREPANTE. O esplendoroso e confortável contrapõe-se ao acanhado desembaraço.

Em Barcelona e Madrid reinam as ruas largas, as avenidas imperiais; há espaço, em simultâneo, pós casalinhos andarem de mãos dadas, um poste de iluminação e uma cadeira de rodas eléctrica (espero que estas ocupam mais espaço). Há Espaço. Os desvios e cedências não são rotina. E essa concepção de espaço é alargada às faixas de rodagem que têm espaço para albergar em total segurança bicicletas numa ciclovia e carros e lambretas em convivência respeitosa na estrada propriamente dita.

Em Lisboa reinam os estacionamentos em segunda fila e as ciclovias que se estendem por 30 metros (salvam-se os sprinters e os fumadores em processo inicial de mudança de hábitos); impera o caminhar em 2D, para dar passagem ao transeunte que se cruza connosco e no qual não nos queremos roçar, legitimamente.

Quanto às ciclovias em particular, confesso-me adepto da ideia. Mas da ideia realizada de forma consistente. Passei hoje por Benfica e a estrada à frente da Junta de Freguesia tem umas marcações idiotas no meio do chão (espero que inicias e/ou provisórias) com uma largura nada adequada a principiantes por duas razões possíveis: se ainda andarem com rodinhas não têm espaço para praticar naquele local em particular ou então, se já passaram a fase do apoio circular, têm que obrigatoriamente andar numa linha recta perfeita, porque não há espaço para enganos ou desiquilíbrios, e se decidirem que há levam com um retrovisor na costela esquerda.

As ciclovias querem-se como em Espanha. Não é possível? Compreende-se. Adaptemo-nos. Faça-se algo decente ou não se faça de todo. Os lisboetas já se tinham habituado a arriscar a vida pelo meio de condutores idiotas ou durante 400 metros entre Campo Grande e Entre Campos de qualquer maneira.

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